Algas em impressoras 3D
Desde 2004, Eric Klarenbeek e Maartje Dros formam o estúdio Klarenbeek & Dros, colaboram em projetos de P&D e design, buscando novas economias locais e cadeias de produção, desenvolvimento de materiais e objetos de design duráveis para espaço público, design de interiores e produtos de consumo. Juntos com o Atelier Luma criaram o Algae Lab que, junto com uma equipe de cientistas, pesquisam e cultivam microrganismos locais, que são convertidos em biopolímeros alternativos aos plásticos tradicionais. Tendo como objetivo estimular a produção social e local, reduzir e até absorver as emissões da produção e do transporte, o estúdio se concentra em produtos impressos em 3D.
The Mycelium Project – Print and Grow
Micélio. É a parte vegetativa de um fungo colônia bacteriana, que consiste em uma massa de ramificação formada por um conjunto de hifas emaranhadas. É também responsável por carregar nutrientes até onde o fungo necessita e faz processos de simbiose com algumas espécies. Temperatura é um elemento chave para os micélios darem continuidade ao processo do ciclo biológico dos fungos.
O micélio vegetativo, é a parte correspondente a sustentação e absorção de nutrientes, se desenvolvendo no interior do substrato (em Ecologia, é toda superfície, sedimento, base ou meio no qual os organismos vivos se apoiam ou se desenvolvem). Em ambiente úmido e rico em matéria orgânica, as hifas desse micélio podem crescer rapidamente. Esse crescimento ocorre nas extremidades das hifas, que vão penetrando cada vez mais no substrato, explorando-o na obtenção de alimento. O micélio que se projeta na superfície e cresce acima do meio de cultivo é o micélio aéreo. Quando o micélio aéreo se diferencia para sustentar os corpos de frutificação ou propágulos, constitui o micélio reprodutivo. Simplificando, as hifas parecem um emaranhado de linhas brancas, que se comunicam com o solo e outras superfícies em que o fungo cresce. O conjunto de hifas é chamado de micélio, que constitui a maior parte do fungo. Com propriedades impressionantes, se mostra um ótimo “reciclador” já que se alimenta de um substrato (serragem ou resíduos agrícolas) para criar mais material, tem potencial de crescimento quase ilimitado nas condições certas. Consegue suportar mais pressão do que o concreto convencional sem quebrar (a indústria da construção está de olho nisso), é um isolante térmico, além de ser resistente ao fogo. Eric Klarenbeek e Maartje Dros (os dois graduados pela Design Academy de Eindhoven) deram juntos, continuidade as pesquisas iniciais de Klarenbeek com o micélio e que o levou a desenvolver a primeira cadeira impressa em 3D do mundo usando fungos vivos (Mycelium Chair). O estúdio (Klarenbeek & Dros), segundo eles próprios dizem em seu site, são o primeiro do mundo a ter micélio vivo impresso em 3D, tecnologia que desenvolvem desde 2011.
Usando esta fonte natural infinita como uma cola viva para vincular resíduos orgânicos. Uma vez crescido e seco, torna-se um material estrutural, estável e renovável, comparável à cortiça ou à madeira. Ainda de acordo com o site do estúdio (https://www.ericklarenbeek.com/), a máquina imprime simultaneamente o enchimento e o invólucro externo, o que impede que sua mistura fresca de micélio e palha se desfaça. Após a impressão, a estrutura é colocada em uma incubadora para crescer e ganhar força, esta tecnologia pode ser utilizada em um amplo espectro de aplicações. Como resultado, a primeira versão da Mycelium Chair, cadeira inspirada em redes miceliais “que reflete a liberdade inimaginável da impressão 3D”. A “prova viva” são os cogumelos que nascem da cadeira, mostrando que o micélio cresceu com sucesso através de sua estrutura.
A segunda versão da Mycelium Chair (2018) fez parte da exposição “La fabrique du vivant” (que ficou em cartaz de 20 de fevereiro a 15 de abril de 2019) do Centro Georges Pompidou (Paris – França) e foi adquirida para a sua coleção permanente. Já a peça “Veiled Lady” (Mycelium Project 2.0) é impressa de uma só vez, inspirada na “estrutura líquida” de seu fungo homônimo. Faz parte da coleção permanente do Design Museum Gent (Gante – Bélgica).
Conceito
A maioria dos produtos comercializados mundialmente possui processos de produção massiva gerando uma imensa cadeia de resíduos (na produção, transporte, uso e descarte). A impressão 3D pode fornecer (segundo a dupla) uma solução parcial para o problema já que produtos podem ser produzidos através de uma rede de “Makers”, conectados e acessados localmente (mais próximos do cliente final) disponibilizando impressoras 3D. A questão são os materiais utilizados nestas impressoras, muitas vezes plásticos de origem fóssil, ou mesmo os bioplásticos (ex: PLA – ácido polilático) que lidam com questões relacionadas ao uso de matéria-prima geneticamente modificada (OGM) ou mesmo com o transporte relacionado à estes materiais (ainda de produção recente e com poucos fornecedores ao redor do mundo).
Pensando nisso, buscaram (e buscam) maneiras de utilizar recursos (matéria-prima) também locais. As impressoras 3D funcionam derretendo e estratificando os plásticos gradualmente, em vez de usar plásticos, usam resíduos do próprio local e micélio como aglutinante.
Após alguns anos de pesquisa com algas na Universidade Wageningen, Salga Seaweeds, Avans Biobased Lab em Breda e outras instituições, Klarenbeek e Dros foram convidados a estabelecer um laboratório aberto de pesquisa e produção de algas no Atelier Luma em Arles, o Algae Lab. Desde 2017, o laboratório explora o potencial do cultivo de micro e macroalgas localmente. As algas são misturadas com biopolímeros para produzir um material totalmente de origem biológica que pode substituir os plásticos à base de petróleo. O projeto propõe um novo modelo para produção circular por meio de biofabricação e fabricação descentralizada, como a impressão 3D. O material da planta produz oxigênio durante seu ciclo de vida, e o processo de produção desenvolvido elimina a necessidade de materiais de aquecimento no processo de impressão, minimizando o uso de energia. Combinados esses dois fatores com o uso de recursos e produção locais, torna-se possível criar produtos com uma “pegada de carbono” negativa. Após o uso, o produto é totalmente compostável e pode ser descartado sem agredir o meio ambiente. O projeto Algae Lab venceu a edição 2018 do prêmio holandês New Material Award (www.newmaterialaward.nl).
Juntamente com a empresa americana Ecovative, o estúdio desenvolveu uma linha comercial de produtos de micélio chamada Krown (falaremos disso em outro post). Os kits GIY (Grow It Yourself) permitem que os consumidores cultivem suas próprias luminárias, mesas ou itens de piquenique biodegradáveis.
Swarovski Designers of the Future Award
Em 2019, foram vencedores da quinta edição do Swarovski Designers of the Future Award, junto com a artista Juju Wang (Xangai – China) e o designer de iluminação Raffe Burrell (Londres – Inglaterra).
A exposição dos projetos vencedores (que utilizam tecnologias pioneiras e sustentáveis com cristal) serão apresentados a um público influente do Design Miami aconteceu no evento Design Miami/ Base (11 a 16 de junho de 2019). A dupla apresentou uma série de objetos de cristal impressos em 3D inspirados na redução das calotas polares do Ártico. Juntamente com a Swarovski, o estúdio Klarenbeek & Dros testarão os recursos do cristal impresso em 3D usando cristal colorido pela primeira vez, permitindo uma liberdade sem precedentes de diferenciação e personalização do design. A faceta distinta em tons de azul imitará as águas geladas do Ártico em uma declaração impactante sobre o aquecimento global e a preciosa ecologia do mundo.
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